sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Clã das Adagas Voadoras (Shi Mian Mai Fu – 2004)


Morrendo por amor

(Esta crítica contém revelações sobre o enredo do filme)

O Clã das Adagas Voadoras é, a meu ver, excepcional. Uma fotografia incrível, uma história envolvente, atuações muito boas e… enfim, chega de elogios! Recomento muito esse filme.

A história se passa na China do século IX e tem como pano de fundo conflitos entre um governo que busca legitimidade e alguns grupos que resistem a esse poder instituído. A personagem Mei, assim como costumam ser os heróis chineses, é impecável em artes marciais e na dança. Ela faz coisas impossíveis como voar e atirar adagas teleguiadas. Mas isso tudo faz parte da estética desse gênero de filmes chineses, e não soa como as “frias” das películas de ação de Hollywood.

Mei é integrante de um Clã dissidente político e é capturada pela guarda oficial. Esta, querendo obter informações sobre esse Clã, falseia um resgate de Mei pelo Capitão Jin que, então simulando estar ajudando a protagonista, inicia uma jornada com ela em direção à sede do Clã. É nesse caminho que Mei e Jin se apaixonam. Isso acontece de uma forma bastante poética, mas vou deixar de lado para tratar apenas de um ponto que julgo bastante interessante.

Mei participa de um triângulo amoroso que é constituído no decorrer da história e que só fica claramente revelado no final. A cena final vale muitos comentários e, portanto, vou descrevê-la sucintamente (se você não viu o filme, é melhor não ler): Mei e Jin estão apaixonados. Ambos revelam-se fadigados com a luta política na qual se encontram (de lados opostos, inclusive) e Jin convence Mei a literalmente fugir e com ele viver. Há aí algo como uma substituição de um sentido político da vida por um sentido que se realizaria no amor. Isso acontece menos da parte de Jin do que na de Mei, já que esta se mostra mais presa ao grupo do qual pertence (o Clã das adagas teleguiadas, digo, voadoras). Uma vez realizada a escolha pelo amor, aparece um obstáculo: Leo, que é um antigo amante de Mei e que estava há alguns anos aguardando para reencontrar a amada. Leo não aceita o fato dela estar apaixonada por Jin –  deixou ela sozinha por três anos e queria o que? – e fica bastante ressentido. Ele fere Mei, para impedir que ela encontre Jin. Aí se delineia a seguinte situação:  Mei está ferida e entre ela e Jin está Leo. Este ameaça matar Jin (com uma adaga), mas Mei contra-ameaça anular o ataque de Leo, o que causaria sua própria morte, pois ela, para tanto, retiraria e usaria a adaga fincada em seu corpo e isso causaria uma hemorragia. Jin se desarma e pede que Mei não faça nada.

Eis, portanto, o que se estabelece: Mei se dispõe a morrer para salvar Jin. Este faz o mesmo. Leo, conformado que não terá sua amada, pretende impedir que ela ame outro e seja feliz sem ele. Chegamos ao ponto que eu pretendia comentar: morrer por amor. Numa primeira vista, isso parece algo altruístico, que seria como um presente à pessoa amada: dá-se a própria vida para que o outro viva. Todavia, penso que talvez não seja bem assim. Como descrevi, ambos os amantes preferem morrer pelo outro. Isso significa que ambos preferem uma morte com um significado do que uma vida amarga. Alguém poderia objetar que a amargura seria temporária e que o sobrevivente poderia voltar a amar. Mas se se considerar o contexto e a intensidade emotiva daquele momento, na minha visão o que se estabelece é a dualidade estática "morte com significado/ vida com significado roubado". A situação fica ainda agravada com o fato de que o sobrevivente permaneceria com a indelével memória de que o amante morreu por si, o que potencializaria o desejo agora impossível. Assim sendo, os amantes querem para si a morte simbólica e querem dar ao outro o que o outro não quer receber – a vida amarga.

O que acontece? Leo simula o ataque, o que faz com que Mei se suicide em vão. Ou seja, Leo mata Mei e, ao invés de matar Jin, prefere deixar a ele a amargura da perda do amor.

Trágico, não?

Qual é a sua opinião?

2 comentários:

  1. Também gostei muito desse filme! Algumas pessoas estão tão acostumadas com os filmes Hollywoodianos que não conseguem abrir a sua mente e se maravilhar com os filmes chineses! Ótima história, ótimas atuações, fotografia maravilhosa! De grudad na cadeira mesmo!

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  2. Incrível esse filme!!!!! Um dos mais maravilhosos que já assisti na vida!!! Fotografia perfeita, cores fortes, vivas, lindo, lindo, lindo, lindo de morrer!!!! Ufa! :)

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