sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation Of Christ – 1988)



(Atenção: se você acredita ortodoxamente na versão religiosa da história de Jesus, não vai gostar desse filme e nem deste texto)

A Última tentação de Cristo, de Martin Scorsese, é um filme polêmico. Chegou a ser censurado em alguns países e até hoje não é fácil de ser encontrado nas locadoras. Tudo isso porque faz uma narração da história de Jesus que é distante daquela baseada na Bíblia. A película, todavia, é um belo exemplo de como a sétima arte pode ser fantástica.

Polêmicas e censuras a parte, trata-se da adaptação de um livro homônimo, que pretendeu fazer um retrato não divino de Jesus. Este, que é interpretado de uma forma bastante expressiva por Willen Dafoe, não é aquela figura idealizada cujas palavras, todas meticulosamente escolhidas, transbordam sabedoria e despertam amor, amizade e solidariedade por onde são pronunciadas. Jesus, neste filme, é humano. Ele oscila entre insegurança e certeza, entre covardia e valentia, entre humildade e vaidade, e apresenta um discurso que se modifica com o tempo, e por vezes é incoerente. A ideia central do filme é mostrar um Jesus que de fato sente as angústias e as tentações de um homem comum. A última e a maior tentação de Cristo é a de viver uma vida vulgar, amando uma mulher (Maria Madalena, quem mais?) e tendo filhos. Com isso, já dá para entender porque desagradou tanto os religiosos ortodoxos…

Há vários diálogos muito marcantes no filme, como o de Jesus com Pilatos. Este não procura salvar Cristo e nem dá a clássica lavadinha de mãos. Ele vê a questão com os olhos de Roma e diz: “não importa se é com amor ou com morte, você quer mudar a maneira como as pessoas pensam e nós não queremos mudanças por aqui”. Mas o ápice é, a meu ver, o diálogo com Paulo. Jesus, que não morreu na Cruz e seguiu uma vida anônima, encontra-o pregando sobre um Cristo que nunca existiu, e o contesta. Paulo diz a ele: “Não é de você que estou falando, é do Jesus que as pessoas precisam ouvir, que, embora irreal, é muito mais poderoso que você.” São, portanto, reconstruções de algumas cenas bíblicas e acréscimo de outras, de forma que se reconta a história famosa com elementos bastante realísticos.

Vale ressaltar que o filme não se pretende verdadeiro. O que ele traz é uma metáfora sobre qual seria o curso pelo qual uma divindade teria que passar para compreender mais profundamente do que são feitas as angústias humanas. Há nisso um rico conteúdo artístico. É um dos meus filmes favoritos.

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