segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Senna (Ayrton Senna – Beyond the speed of sound – 2010)



Este não é o primeiro documentário sobre Senna desde sua morte, mas parece ser a maior produção. Como toda biografia, o filme pinta determinada imagem de Ayrton, com muito da visão do próprio diretor, e privilegia só alguns aspectos da vida do piloto. Considerando essas limitações - que são típicas desse gênero de filmes - o trabalho, a meu ver, está muito bem feito. Recomendo.

Trata-se de uma narração da carreira de Senna desde um pouco antes de sua entrada na Fórmula 1. O foco principal é sua rivalidade com Prost e seu papel de ídolo para o povo Brasileiro, que naquela época estava passando por uma situação de instabilidade econômica e política (vale lembrar que 85 foi o ano da eleição e morte de Tancredo Neves e 94 foi o ano da implementação do Plano Real). Aparecem alguns aspectos bem conhecidos da personalidade de Senna, como a sua incomum determinação pela vitória e sua ousadia passional dentro da pista, e outros não tão conhecidos, como seu misticismo “exagerado” (que chegava a incomodar os colegas, como se percebe do que relata Prost).

A envergadura deste documentário e talvez o fato de ter sido realizado por estrangeiros (o que o torna menos parcial se tratando de um ídolo brasileiro) vêm a contribuir para consolidar a memória de Ayrton como um mito do esporte nacional e mundial. Isso, além de muito merecido, é muito positivo pois Senna é uma figura que serve de inspiração para aqueles que têm a determinação de vencer competições, esportivas ou profissionais, e é, na minha opinião, o maior esportista brasileiro. 

Sobre isso, faço algumas ponderações.

Creio ser muito equivocado atribuir o sucesso de Senna apenas ao seu talento. Aliás, eu não sei até que ponto se pode falar em talento, pois a meu ver há aí (não só no caso dele) uma grande combinação entre oportunidade e muito esforço. Explico: Para ser um piloto de Fórmula 1, para se conseguir uma vaga na Fórmula 1, é preciso ser um piloto muito bom. Para ser um piloto muito bom, é preciso ter muita experiência. Para se ter muita experiência, é preciso ter bons equipamentos, com os quais se pode praticar. E para se ter esses equipamentos, é preciso que alguém lhe financie. É um círculo vicioso: para se obter equipamentos é preciso ser bom, mas para ser bom é preciso ter bons equipamentos (é o que o próprio Senna diz numa entrevista no programa Roda-Viva em 1984). Logo, no fim das contas, é sempre a família que financia o início da carreira dos pilotos. Todavia, são muito raros os que têm uma família com condições de dar esse financiamento (lembro que a população brasileira é, em sua maioria, pobre). Ainda, das famílias ricas, são poucas as que aceitam investir numa carreira exótica para o filho, como a de piloto. Portanto, em primeiro lugar Senna teve uma oportunidade que poucos tem.

Tendo a oportunidade, é necessário esforço. Todos os pilotos de fórmula 1 começaram suas carreiras desde muito cedo. Quando entraram nesse campeonato mundial, já tinham muitos anos de prática. E aí vale ressaltar as qualidades de Senna, que como mostram suas biografias, tinha uma dedicação muito extraordinária. Ele era obcecado pelo trabalho e, ao contrário de muitos pilotos, buscava o conhecimento de toda a mecânica do carro, ficava na pista com os engenheiros até tarde (isso é dito no documentário) e, enfim, se esforçava muito para melhorar sua maneira de pilotar e aprender com seus próprios erros. Portanto, em segundo lugar, Senna dedicava um esforço incomum ao trabalho.

Some-se isso ao talento e então terá a genialidade que lhe é atribuída. Em conclusão, o que eu queria dizer é que o sucesso dele (e de muitos outros) não é simplesmente algo que se deve ao talento (inato), mas que dependeu de oportunidade (sorte) e de muito trabalho (dedicação). Principalmente nesse segundo aspecto, acredito que Senna é um exemplo para nós.

2 comentários:

  1. Legal o texto... Parabéns. :)
    É fã de filmes? Já viu o site vcviu.com.br ? É de um amigo meu... Aproveite! ;)

    ResponderExcluir
  2. Interessante seu texto! Gostei! Não assisti ao documentário, mas achei bacana você comentar sobre um esportista, que, de certa forma, não se deu mal ao querer atingir a perfeição (novamente em relação à personagem Nina)rsrss... Sorte+oportunidade+talento!

    ResponderExcluir