quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Cisne Negro (Black Swan)



Antes de começar a escrever esta crítica dei uma olhada rápida para ver o que se fala desse filme nos sites de cinema. Fiquei surpreso em ver o quanto ele é aclamado. Não merecia tanto, na minha opinião.

Cisne Negro tem muitos pontos positivos. Os destaques são para a narração, que consegue com sucesso criar um suspense com a mistura da realidade com as alucinações da protagonista, e para a atuação da Natalie Portman.

Todavia, a meu ver não há nada de sensacional na história.

Nina é apresentada como uma bailarina, obcecada pela perfeição, que tem alguma dificuldade em lidar com sua mãe controladora e que está submetida a uma difícil situação de concorrência entre as bailarinas da companhia. No decorrer da história, a personagem vai revelando traços que modificam a primeira impressão. Nina se mostra, no fim das contas, uma pessoa extremamente insegura, despreparada para lidar com a concorrência e ainda por cima com alguns problemas éticos. São essas as minhas conclusões e explico já partindo de todas as informações que são desveladas no final do filme.

A concorrência sofrida pela personagem é em sua maioria fruto de sua própria imaginação. Ela não tem concorrentes que apresentam um desempenho melhor que o seu e aparentemente está agradando o diretor do espectáculo (são publicados cartazes que indicam Nina como a bailarina principal, o que deveria lhe dar uma certa tranquilidade quanto à garantia de seu lugar). Entretanto, ela é dominada por uma insegurança, que resulta numa paranóica alucinação de que sua colega Lilly está disposta a trapaças para tomar seu lugar. Não fica claro se na realidade Lilly está de fato tentando ajudar Nina (e dar-lhe uns pegas), mas esta a vê como uma terrível adversária. Ao invés de intensificar os treinos e tentar realmente ficar impecável, Nina se perde em seu trabalho, apresentando algumas atitudes antiprofissionais (como “embriagar-se” numa véspera de ensaio). Ao receber a notícia de que Lilly seria sua suplente, Nina tenta jogá-la para escanteio, primeiro pedindo sua exclusão perante o diretor e depois efetivamente a matando (ou pela menos acreditando estar fazendo isto). Neste momento, fica claro que a preocupação de Nina é meramente narcísica. A protagonista não é, realmente, uma artista obcecada pela perfeição, mas uma garota um tanto infantil querendo a qualquer custo os holofotes, talvez para tentar provar alguma coisa à mãe.

No fim das contas, Nina não feriu à sua adversária, mas a si própria (e apesar do figurino branco, misteriosamente ninguém percebeu a mancha de sangue). Assim, terminou por dar a vaga à sua concorrente, que certamente estava melhor preparada para ocupá-la.

Acho curioso que alguns descreveram a história de Nina como a trajectória de um amadurecimento artístico, pois para mim tudo o que lhe faltou foi maturidade.

Acredito que, de certa forma, a protagonista se mostra uma antítese de uma figura muito comum no cinema que é a da pessoa batalhadora que se submete a situações muito difíceis e que termina por vencer. É o caso de Rocky Balboa, por exemplo. A personagem Nina seria mais interessante se, mesmo apesar de um fracasso, soubesse se levantar. Mas, Nina é a criança que não sabe perder.

Apesar de tudo isso, caro leitor, o filme tem seus méritos e vale a pena assisti-lo.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bom! Faço apenas uma observação: as bailarinas, em geral, sofrem uma pressão muito grande, a vida não é muito feliz (experiência própria). De fato, há sim um certo narcisismo e pressão psicológica da própria dançarina, que de certa forma, almeja buscar a perfeição e ser reconhecida por isso, custe o que custar!Competição é a palavra: competir consigo mesma. Outra coisa, em relação à mancha no vestido branco de Nina, você disse que poucos notaram... será? Foi a primeira coisa que notei...
    Enfim, sua crítica foi pertinente e muito boa, mas acho interessante levar em consideração o lado não tão bonito da profissão "ser bailarina". De resto, perfeito!! :)
    Beijos, Char.

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  3. Charlene: outras pessoas já me disseram isso sobre as bailarinas e eu não questiono. Contudo, o foco de minha crítica era a maneira de lidar como essa pressão, com essa competição. Nina lidou mal. Mas há várias bailarinas (bem como vários esportistas ou pessoas submetidas a situação de pressão e competição) que lidam bem, que conseguem se superar, que conseguem trabalhar sob essa pressão, que conseguem se motivar pela vontade de vencer e não pelo medo de fracassar. Entretanto, é preciso maturidade para isso, e Nina não teve, na minha visão.
    Sobre a mancha no vestido, quis dizer que as outras bailarinas e o público não notaram (o filme não fala nada sobre isso).
    Muito obrigado pelos elogios!

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  4. Sim! Exatamente! Nina lidou muito mal mesmo. E há também o relacionamento estranho/competitivo entre Nina e a mãe, uma bailarina frustrada, que, aparentemente, não torcia pelo sucesso da filha... não sei, pelo menos foi o que deu a entender...

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  5. A graça do filme talvez esteja na imaturidade de Nina, como é real e bem traçada, concordo com sua análise psicológica da personagem, ela é imatura, com caráter duvidoso e considerei isso positivo, no sentido de mostrar a realidade. A minha experiência no mundo corporativo, demonstra que infelizmente quem chega ao sucesso profissional são as Ninas e não os Rocky Balboas, quem não tem escrúpulos, e talvez seja assim no balé também, apesar de ser o tipo de pessoa que tenho ojeriza na vida, prefiro a Nina ao Rocky;como representantes da realidade; por que ela é atual e real. O que eu queria ver na vida são os Rockys se dando bem e não as Ninas... Mas infelizmente não é assim, então, acho que a personagem é só a sociedade pintada.
    "Acho curioso que alguns descreveram a história de Nina como a trajectória de um amadurecimento artístico, pois para mim tudo o que lhe faltou foi maturidade. " - Concordo completamente, talvez o filme tenha sido tão aplaudido sem ninguém ter feito críticas a respeito da índole da personagem, não por concordarem com sua postura anti ética, mas por vivermos em um mundo onde isso se tornou o normal. (e por vezes penso, se o mundo sempre não foi assim)
    Vi que gostou de alguns pontos do filme e sobretudo não concordou com as críticas, e essa é a primeira crítica que leio que aponta as falhas éticas da personagem, e me assusta ninguém notar isso. Também acho que funcionou ela ser anti ética por ser uma heroína de um triller que não é terror, mas no meu ponto de vista, não só pelo clima sombrio criado com fotografia e música, Cisne Negro é um filme de terror por ter uma protagonista sem escrupulos.

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