domingo, 11 de setembro de 2011

Meia noite em Paris (Midnight in Paris - 2011)



Este filme tem sido muito elogiado pela crítica e apontado como um grande “retorno” de Woody Allen. Seguindo a proposta deste blog, não insistirei nos elogios – ressalto, apenas, que o filme é ótimo -. Ater-me-ei a somente alguns aspectos.

Interessante observar o papel que a arte ocupa na visão do diretor. Há na história um contraste entre Paul, o professor que quer se exibir com o conhecimento sobre história da arte, e Gil, o escritor que busca vivenciar a arte para, através dela, sublimar, e com essa experiência terminar o livro que está escrevendo. Paul é o clássico Pimba (pseudo-intelectual metido a besta): quer ostentar a arte, mostrando conhecimentos (que, no fundo, são apenas curiosidades sobre as obras que está analisando) com a intenção se pintar culto. Fazendo isso, Paul fisga Inez, a noiva de Gil, que deslumbra-se com a aparência de cultura (“ele é romântico e fala francês”). Gil, por outro lado, não está preocupado em parecer culto, mas em efetivamente vivenciar a arte, a fim de encontrar nela um sentido para a existência (é o que leio nas entrelinhas do filme). O escritor entra em êxtase quando, na fantasia da história, encontra vários artistas do início do século passado e com eles discute algumas percepções próprias da vida.

A questão “para que serve a arte” é, sem dúvida, muito difícil e não arriscarei escrever muitas linhas sobre isso. Agrada-me bastante a perspectiva que Woody Allen passa neste filme: a arte não é um remédio milagroso, mas pode ajudar a lidar melhor com as dificuldades da vida, especialmente aquelas que dizem respeito ao sentido da existência. Talvez seja bom enfatizar isso, uma vez que vivemos numa época em que a arte é constantemente transformada em mercadoria para consumo e com isso perde seu potencial de sublimação (e deixa de ser arte).

Outro ponto relevante do filme é a relação Gil/Inez. Fica claro que Gil não deveria estar com Inez, não só porque ela está encantada com outra pessoa, mas porque é incapaz de perceber as qualidades e os conflitos de seu noivo. Ela está tão demasiadamente preocupada com o que parece arte ou o que parece belo que não tem olhos nem paciência para o convite de seu noivo para embarcar na metáfora da carruagem que leva a um outro mundo. Isso é simbolizado em duas cenas: aquela em que Inez se cansa de esperar pelo que Gil promete na escadaria e aquela em que Inez não aceita o convite para caminhar na chuva. O choque entre os dois é tão explícito que quase soa exagerado.

Gil está em plena fase de amadurecimento e percebe logo que Inez apenas lhe castra. O protagonista não hesita em deixá-la e segue seu rumo na estrada do autoconhecimento. Ele já em seguida se interessa por uma garota que sutilmente potencializa seus anseios – o que é simbolizado pela cena em que ela aceita o convite para caminhar na chuva.

É um filme que vale a pena assistir.

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